sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Uma questão de umbigos...

O meu, o teu, o dele, o dela, o do outro, o dos outros,...

Flutuam como bolhas - bolhas umbilicais. Vão chocando uns com os outros na expectativa de alcançar a maior afirmação!

- "O meu é maior que o teu!"
- "O meu é pior que o teu!"

E adam por ai, a invadir Lisboa como umbigos solitários e cheios de tudo: de amor, de problemas, de ego, de preocupações, de discursos moralistas, de falta de moral... Enfim, não lhes falta nada!
É vê-los atravessar o Terreiro do Paço, de manhã cedinho, na sua bolha cheia de vazio. Às vezes, com outra bolha ao lado, mas não suficientemente perto para se unirem.
É vê-los subir o Chiado cheios de pompa.
É vê-los no comboio e no metro. No metro então... É a bolha mais rápida a sentar-se ou simplesmente a conseguir uns centímetros de espacinho para se segurar - a campeã! E ouvir o barulho das bolhas comprimidas, de cara feia e phones nos ouvidos. De vez em quando - muito de vez em quando - lá se vê uma bolha umbilical ceder o seu lugar a uma bolha umbilical idosa. Não é preocupação nem cuidado, é a pontinha de bons princípios que entrou pelo furo da bolha - é urgente remendá-lo!

O mais engraçado é o discurso dos umbigos: se não te queixas é porque está tudo perfeito - a perfeição existe nos umbigos dos outros! - se te queixas, és um umbigo lamentador, deprimido e que renega a felicidade umbilical.


- "O meu é maior que o teu!"
- "O meu é pior que o teu!"

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Ela

Ela tem a maneira mais esquisita, natural, pura e apaixonada de viver a vida que eu conheço.
Ela é aluada e empenhada, além de dedicada...
Deve ter alguns defeitos, mas eu não os conheço - ainda bem!
Envia-me mensagens de bons dias, todos os dias - não se esquece em nenhum!
Está sempre, sempre, mesmo sempre disponível para todos, os "todos" é que não estão disponíveis para ela - como eu!
Ela não se esquece de mostrar o quanto gosta de alguém.
O que um comum mortal encararia de forma agressiva ou ciumenta, ela encara como mais uma experiência positiva que a faz crescer.
Ela realmente aproveita cada minuto "em que lhe é possível respirar" - como ela diz. Todos deveríamos ser assim, não é? Aproveitar cada minuto de vida da melhor maneira, não nos chatearmos por tudo e por nada e lutarmos para sermos felizes.
Ela tem uma filosofia de vida que eu venero, cada vez mais!
Conheci-a porque ela me pegou ao colo quando eu caí, e nunca me vou esquecer disso.
Ela é única - de verdade!
Ela é a minha madrinha académica, mas acima disso, ela é uma grande amiga!

sábado, 10 de novembro de 2012

Sinceramente


Eu adorava voltar a escrever, muito e bem.

Eu adorava não encher este blog de textos pirosos e melodramáticos.

Eu adorava escrever algo diferente disso.

Eu adorava ser mimada, irritante, presunçosa e inconsequente.

Adorava ser irresponsável – mas isso não é de agora – na verdade eu sempre quis ser irresponsável, porque a minha responsabilidade irrita(va)-me per fundamente! No infantário achava que percebia sempre mais de tudo do que as outras crianças – e será que percebia? Tinha a mania que pensava como os adultos: fazia os pensamentos contrafactuais mais detalhados possíveis e construía mil e uma histórias em cima de uma hipótese.
Gostava de ficar a observar os adultos e investigar por conta própria, sentia que percebia sempre tudo, além do que me diziam, além do que deveria saber– mas não gostava, assustava-me.

Eu adorava ser irresponsável.

Eu adorava viver ao sabor do vento, obrigar os outros a preocuparem-se por mim e não ter a mania de resolver tudo sozinha. Adorava não ser orgulhosa, viver às custas de alguém e não me preocupar com as contas no final do mês.

Eu adorava voltar a fotografar… muito, fotografar muito e bem.

Eu adorava dar a atenção que os meus amigos merecem - acho que agora já são só amigas, poucas.

Eu adorava que os meus amigos – aqueles que dizem que eu mudei, substitui e não me preocupei – continuassem presentes. Talvez um dia, quando tiverem de ser adultos, percebam que não era falta de interesse e que a falta de tempo não era falta de disponibilidade (são coisas diferentes).

Eu adorava não chorar quando penso neles.

Eu adorava voltar a passar os fins-de-semana entediada por não ter de fazer nada, quando me irritava com a TV por não passar filmes do meu agrado.

Eu adorava ser irresponsável.

Eu adorava estudar – só estudar.

Eu adorava não ter pena de mim – mas tenho. As pessoas têm muito pudor em dizerem que têm pena – não percebo porquê! Lamento que assim seja, daí ter pena. E ter pena não é fazer-me de coitadinha. Não sou coitadinha: muito pelo contrário. E é por não ser coitadinha que tenho pena de mim.

Eu adorava ser irresponsável.

Eu adorava fugir de Lisboa – porque no fundo ainda tenho esperança que outra cidade me proporcione uma rotina diferente.

Eu adorava voltar a ser criança e sonhar com Coimbra cor-de-rosa e fácil. Onde um apartamento e as propinas apareciam pagas por uma varinha mágica e o frigorífico estava sempre cheio.

Eu adorava não pensar tanto.

Eu adorava ser irresponsável…